Entender é o primeiro passo
Antes de mais nada, todo mundo já viu uma criança chorando, se jogando no chão ou gritando em público. No entanto, você saberia dizer se aquilo é uma birra ou uma crise sensorial? Essa diferença é essencial, especialmente quando se trata de crianças com autismo.
O que é uma birra e como identificar
A birra é, geralmente, uma reação emocional a um limite imposto. Por exemplo, a criança come um doce, pede outro, mas ouve um “não” — e aí começa a gritar, chorar, bater ou se jogar no chão.
📌 Características de uma birra:
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A criança deseja algo que foi negado;
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O comportamento surge após frustração;
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Pode incluir gritos, tapas ou choro intenso;
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Costuma cessar quando o desejo é atendido;
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Está ligada ao comportamento aprendido para conseguir o que quer.
Ou seja, a birra é uma forma de comunicação comportamental para atingir um objetivo.

E quando é uma crise sensorial?
Em contrapartida, diferentemente da birra, a crise sensorial ocorre por sobrecarga dos sentidos. Então, sons altos, luzes fortes ou toques inesperados podem desorganizar emocionalmente uma criança com hipersensibilidade sensorial.
🔍 Sinais de uma crise sensorial:
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O comportamento surge sem motivo aparente;
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A criança pode chorar ou gritar de forma descontrolada;
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Há dificuldade de comunicação durante a crise;
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É comum a criança se afastar, se agitar ou entrar em colapso;
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O ambiente é um gatilho, não uma frustração.
Como agir em cada situação
✔️ Em casos de birra:
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Mantenha a calma e não ceda ao comportamento;
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Evite longas explicações no momento da birra;
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Não recompense comportamentos inadequados;
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Use reforços positivos quando a criança se acalmar;
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Procure ajuda de uma psicóloga comportamental para lidar com esses episódios.
✔️ Em crises sensoriais:
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Leve a criança para um ambiente mais calmo e com menos estímulos;
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Evite falar demais ou tentar “explicar” a situação;
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Fique por perto em silêncio, oferecendo segurança sem invadir o espaço da criança;
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Se possível, reduza luzes, sons e toques inesperados;
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Após a crise, converse com a criança em um momento de tranquilidade.
Quando buscar ajuda profissional
Acima de tudo, nem sempre os pais conseguem distinguir com clareza o que está acontecendo. Por isso, o acompanhamento profissional faz toda a diferença:
Terapeutas ocupacionais trabalham com integração sensorial, ajudando a reduzir as reações extremas a estímulos;
Psicólogos comportamentais orientam a lidar com birras e comportamentos desafiadores;
A equipe multidisciplinar ajuda a entender o contexto completo da criança.
Conclusão: Respeito, acolhimento e suporte fazem toda a diferença
Portanto, birra é uma tentativa de conseguir algo, enquanto crise sensorial é uma reação involuntária a estímulos que causam desconforto. Antes de mais nada, com empatia, conhecimento e suporte profissional, pais e educadores podem agir da forma correta em cada situação.
Compreender não é mimar — é apoiar o desenvolvimento com inteligência emocional e estratégias práticas.

Ludmila Tenuta
Dra. Ludmila Tenuta é psicóloga clínica infantil, especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), mestre em Psicologia e atua como terapeuta ABA há mais de 10 anos.